O setor de serviços, que inclui atividades como comércio e tecnologia da informação, entre outras, puxou o crescimento da economia brasileira e foi o único que avançou acima do Produto Interno Bruto (PIB) desde o início da crise econÔmica, iniciada em setembro de 2008.
Nesses quatro anos e um trimestre de turbulência internacional, o PIB do setor de serviços avançou 11,6%, enquanto o crescimento brasileiro, no geral, foi de 9,3%, revela um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). No mesmo período, a indústria cresceu apenas 2%, e a agropecuária ficou praticamente estagnada – queda de 0,1%.
A reação mais pujante do setor de serviços é evidente porque todas as atividades apresentaram crescimento. No caso da indústria, a atividade de transformação teve uma queda de 5,9% no período analisado. O que evitou um recuo do PIB total industrial foi o crescimento do setor de construção, que teve alta de 12,1% – vale lembrar que, nos últimos anos, o governo adotou medidas de estímulos para a construção, com o lançamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, e desonerou a compra de materiais de construção.
“Do ponto de vista da oferta, somente o setor de serviços respondeu aos estímulos da demanda”, diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política EconÔmica do Ministério da Fazenda. “A minha expectativa é que o agronegócio se recupere em algum momento, porque esse resultado é fruto de uma reviravolta no setor das commodities. No caso da indústria, parece ser uma coisa mais estrutural.”
Essa diferença que se abre entre os dois setores pode ser observada pelo dinamismo da economia brasileira desde o início da crise econÔmica. Para manter o crescimento econÔmico num cenário internacional adverso, o governo apostou no incentivo ao consumo. No período analisado pelo Iedi, o consumo das famílias cresceu 19,7%, enquanto o investimento teve alta de apenas 6,1% no período.
“É necessário que haja um alento para que o empresário invista. A saída para a indústria está no aumento da produtividade”, diz Almeida. “O governo tem feito o que pode com redução de custo e reposicionamento do cãmbio. Mas nós precisamos de uma revolução industrial.”
Estrutura e conjuntura. O economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP, vê um elemento estrutural e um conjuntural na retração da indústria e no aumento do setor de serviços nos últimos anos. Pelo lado estrutural, ele cita a perda de competitividade da indústria, em função do aumento dos custos de produção – particularmente dos salários – e da valorização cambial. “A indústria sofreu muito, com as importações subindo fortemente para suprir a demanda”, diz.
O estudo do Iedi mostra que o crescimento dos importados foi de 34,8% desde o início da crise, enquanto as exportações tiveram aumento de somente 5,9% no período.
Rocha nota ainda que é normal que o aumento da renda da população impulsione o setor de serviços. Ele explica que, quando as pessoas saem dos extratos de baixa renda para a classe média, há consumo de bens no primeiro momento, como geladeiras, carros, etc. Posteriormente, porém, são os serviços que crescem mais, com mais gastos em educação, saúde, lazer.
Do ponto de vista conjuntural, ele acha que a indústria também foi prejudicada, de um ano e meio para cá, com uma desaceleração da demanda, por causa do excesso de endividamento das famílias. Ele nota que o consumo das famílias, que chegou a crescer a um ritmo anualizado em torno de 7% em 2010, caiu para um mínimo em 2,5% em meados de 2012. No ano passado, o consumo das famílias fechou com expansão de 3,1%.
Se o setor industrial ficou pressionado nos últimos anos, o setor de serviços teve espaço para repassar o aumento d e custo, sobretudo porque o Brasil ostenta uma situação confortável no mercado de trabalho – em dezembro, a taxa de desocupação medida pelo IBGE foi de 4,6%, a mais baixa desde o início da série histórica, em março de 2002.
“O setor de serviços conseguiu repassar os custos principalmente nesse contexto de baixo desemprego”, diz Rafael Bacciotti, economista da Tendência.
O economista Beny Parnes, professor da PUC-RJ, acha que o crescimento dos serviços e os problemas da indústria estão ligados à forma como o País reagiu a uma situação internacional extremamente favorável nos últimos dez anos.
Ele nota que o Brasil sofreu “um choque positivo de termos de troca”. Isso quer dizer que os produtos que o País exporta mais, como commodities agrícolas e minerais, subiram de preço, enquanto aqueles que são mais importados, como bens manufaturados, ficaram mais baratos. Por outro lado, a isto se somou um grande aumento da oferta de capitais para o Brasil, em consequência do próprio choque positivo, que reforçou a confiança no País, e das melhoras na parte fiscal e de gestão econÔmica.
O problema, segundo Parnes, é que “o Brasil não usou este superchoque favorável e a enorme oferta de capitais para poupar mais, investir mais e aumentar as posições de crescimento de longo prazo”. “Na verdade, o que a sociedade e o governo decidiram fazer democraticamente foi expandir o consumo no curto prazo”, diz.
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