A Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou nota, nesta quinta-feira, explicando a origem para o problema de abastecimento de combustíveis em Santa Catarina: “os estoques do sistema de distribuição não conseguiram dar conta do maior consumo de combustível”. No texto, a ANP admitiu “dificuldades na chegada do etanol ao Estado, tanto o anidro como o hidratado”.
A Petrobras Distribuidora também admitiu, no mesmo dia, que dificuldades logísticas na coleta do álcool anidro no período entre o Natal e o Ano-Novo impediram a produção da gasolina C, aquela que é vendida nos postos. Para entender melhor: a gasolina estocada nas distribuidoras precisa de 20% de álcool anidro para ser comercializada. Sem ele, o combustível não sai para os postos.
Para solucionar o problema, a Petrobras promete regularizar, hoje, a entrega de combustíveis em SC. Em três ocasiões, no período de 30 dias, entre 29 de novembro e 28 de dezembro, faltou gasolina e diesel na Grande Florianópolis. Ontem, em 15 postos da região, faltava gasolina comum, aditivada, etanol e diesel S-50.
O presidente do Sindicato de Revendedores Varejistas de São José e Região (Sindicomb), Valmir Espíndola, afirma que, em 12 anos de exercício, esta é a primeira vez em que ele vê faltar combustível na região.
Segundo o dirigente, todas as distribuidoras BR que abastecem o Estado estavam sem álcool anidro nos últimos dias. O presidente do sindicato esclarece que o problema não foi exclusivo da Capital e região.
Temor se espalha para outras regiões
Em outras regiões de SC, os estabelecimentos receberam menos combustível do que o desejado, o que faz postos das regiões de Joinville, Itajaí e Balneário Camboriú temerem pela falta de combustível no final de semana caso a distribuição não normalize.
No Posto Nienkötter da BR-101, em frente ao Continente Park Shopping, os quatro combustíveis começaram a faltar na quarta-feira. No mesmo dia, o posto fez um pedido de abastecimento à distribuidora BR, que não foi atendido. A informação que o proprietário recebeu é que a solicitação seria atendida hoje.
O presidente do Sindicomb, que também é dono do Posto Rita Maria, no Centro da Capital, conta que desde o dia 28 deixou de vender 40 mil litros de gasolina comum, aditivada, diesel S-50 e etanol, o que representa uma perda de R$ 80 mil em faturamento.
A Petrobras informou que já “reforçou o transporte do produto por via rodoviária, a partir do polo de Araucária, para regularizar hoje a programação de entregas”. Mas, como observa Rodrigo Presser da Silva, gerente administrativo dos sindicatos dos varejistas de São José e Florianópolis, a regularização do abastecimento pode não ser suficiente no curto prazo, já que alguns postos secaram e ficaram sem estoque ontem.
Oferta não acompanha a demanda
A raiz do problema é uma combinação da estagnação do preço da gasolina e do número crescente de brasileiros comprando automóveis, segundo Paulo Boamar, ex-presidente do Comitê Sul Brasileiro de Qualidade de Combustíveis (CSQC).
O valor da gasolina no Brasil, ele explica, está abaixo do praticado em outros países. Por isso, algumas distribuidoras pararam de importá-la, porque venderiam mais barato para o mercado interno, tendo prejuízos— o que ocorre com a Petrobras.
Para complicar, os consumidores começaram a perceber que o preço do etanol não estava mais valendo a pena diante da gasolina. O efeito disso é que as usinas produtoras de álcool passaram a considerar mais rentável a produção de açúcar.
Vale lembrar que os casos de desabastecimento na Grande Florianópolis no final de novembro e durante a semana de Natal ocorreram pelo alto consumo. A distribuidora de AntÔnio Carlos teria vendido a cota mensal permitida antes mesmo de acabar o mês, ficando, então, sem combustível.
Apesar da baixa oferta e da alta demanda, o presidente do Sindicato de Revendedores Varejistas de São José e Região, Valmir Espíndola, diz que os postos estão conseguindo absorver as perdas. O aumento médio de R$ 0,16 na gasolina de São José, em dezembro, segundo ele, ocorreu por alinhamento de preços entre postos.
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