SÃO MIGUEL DO OESTE
O Estado de Santa Catarina tem a segunda maior incidência de casos de infecção do vírus HIV no Brasil. O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde revelou que a taxa de incidência é de 36,4 casos para cada grupo de 100 mil catarinenses. O número é maior que a média nacional, que é de 20,2 casos em um grupo de 100 mil habitantes. No ano passado, o Estado ocupava a quarta colocação no ranking liderado pelo Rio Grande do Sul. Segundo a médica infectologista Priscila Garrido, os números podem não significar um aumento de casos, mas, sim, uma evolução dos diagnósticos.
Na regional de São Miguel do Oeste, que compreende 21 municípios, são 122 casos, sendo 83 pessoas que já desenvolveram a doença e 39 soropositivos. Só este ano foram registrados 20 novos casos. Contudo, a incidência deve ser maior, já que um quarto dos brasileiros não sabe que são portadores do vírus HIV. O Ministério da Saúde estima que em todo o Brasil 135 mil pessoas tenham o vírus e não sabem que são portadoras. Os municípios que mais recebem turistas ou que têm portos são os com maior incidência. “Nestas cidades os relacionamentos são mais passageiros e informais, o que pode aumentar este índice”, avalia a médica, Priscila Garrido.
Hoje não se fala mais em grupo de risco e, sim, em comportamento de risco. Priscila explica que a principal forma de transmissão é em uma relação heterossexual e não mais homossexual. “A incidência em idosos também está aumentando. Isso se deve principalmente ao aumento da expectativa de vida e o uso de medicações para melhorar a vida sexual. Estas pessoas têm tabus e ainda apresentam resistência em usar camisinha”, salienta a médica.
PREVENÇÃO
A camisinha continua sendo a principal forma de prevenção contra o HIV. Além de impedir a entrada do vírus no organismo, este tipo de preservativo previne outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). O risco deste preservativo estourar é muito pequeno, quando utilizado de forma correta e com o uso de lubrificantes. O uso da camisinha será enfatizado em todo o Brasil, no sábado, Dia Mundial da Luta contra a Aids.
A primeira pílula de prevenção contra a Aids, a Truvada, foi aprovada este ano pelos Estados Unidos. Entretanto, o uso da medicação é restrito e controlado pelo Ministério da Saúde para evitar que estimule comportamentos de risco. “A Truvada poderá ser utilizada por pessoas que não têm o vírus e se relacionam com pessoas soropositivas. Quando a camisinha estoura e a pessoa entrou em contato com o vírus, ela toma a medicação para impedir que o vírus se multiplique”, informa a infectologista.
Durante a gestação, as mães soropositivas também já conseguem evitar que o filho tenha o vírus. Desde a 14ª semana de gestação ela já recebe medicamentos com esta finalidade. “A mulher faz cesariana e recebe medicação na veia instantes antes do parto. Quando o bebê nasce, ele começa a tomar medicamento até o 42º dia de vida. Graças a estas ações, nos últimos anos não tivemos nenhum caso de transmissão vertical na região”, comemora a médica.
É importante também que as pessoas procurem o Posto de Saúde e façam os testes para saber se estão infectadas. Até sábado, em todo o Brasil, será realizada a ação “Fique Sabendo”, que oferecerá o teste rápido. Com uma gota de sangue o resultado do HIV, Sífilis, Hepatite B e C sai em apenas 30 minutos. Se o paciente tiver o diagnóstico positivo da doença será encaminhado para atendimento especializado.
O vírus não apresenta sintomas em geral. “Existem algumas doenças que chamamos de definidoras de Aids, uma pneumonia rara, um tipo de cãncer diferenciado indicam que a imunidade está baixa”, salienta Priscila. Quando a doença é diagnosticada cedo há dois impactos positivos: o individual e o coletivo. Quando o paciente tem o diagnóstico precoce ele recebe um tratamento eficaz e mais rápido, reduzindo a carga viral negativa e melhorando a qualidade de vida.
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AIDS X QUALIDADE DE VIDA
Até o começo da década de 1990, a Aids era considerada uma doença que levava à morte em um prazo relativamente curto. Com o surgimento do coquetel de medicamentos as pessoas infectadas passaram a viver mais. O tratamento é feito com comprimidos que são retirados pelo paciente a cada 30 dias. “Para melhorar a adesão dos pacientes se reduziu muito os comprimidos e hoje 70% das pessoas que usam a medicação têm o vírus controlado”, enaltece a médica infectologista.
O tempo de sobrevida (anos de vida pós-infecção) é indefinido e varia de indivíduo para indivíduo, dependendo do momento que o vírus foi descoberto. “Tem muitas pessoas que passam anos com a imunidade controlada sem precisar tomar remédio. O importante é que hoje eles têm maior qualidade de vida, precisam fazer exames de rotina, mas trabalham, viajam e estudam como qualquer outra pessoa”, finaliza Priscila.
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