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Tarso entrega nesta terça-feira acervo secreto da ditadura militar

Última atualização 27 de novembro de 2012 - 14:11:43

De férias no Brasil para visitar parentes e amigos, a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, funcionária da embaixada brasileira em Berna, na Suíça, alterou seu roteiro para um compromisso que mistura tristeza e alívio.

Beatriz estará às 14h desta terça-feira no Palácio Piratini para receber do governador Tarso Genro uma cópia do documento que confirma a prisão do pai dela, o ex-deputado federal paulista Rubens Paiva, no Destacamento de Operações e Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro, em 1971.

Nesta manhã, o chefe da Casa Civil do Estado, Carlos Pestana, recebeu os documentos originais do período da ditadura das mãos do delegado Fernando Martins Oliveira e do chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Junior.

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O registro é primeira prova material tornada pública de que o político cassado pela ditadura militar em 1964 esteve preso no DOI-Codi do Rio, antes do desaparecimento que perdura quatro décadas. Até agora, as informações de que Rubens Paiva foi torturado no quartel-símbolo da repressão no Rio se limitavam a relatos verbais.

O documento estava em poder do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, ex-chefe do DOI-Codi carioca, assassinado em 1º de novembro, em Porto Alegre.

Maria Beatriz admite: está apreensiva em razão do que a descoberta do documento poderá gerar. Ela acredita que novas informações deverão surgir sobre os últimos momento de vida do pai, oficialmente declarado morto pelo governo brasileiro em 1996.

Maria Beatriz estará na solenidade acompanhada do marido, Daniel Keller. Eles foram convidados pelo governador que fará a entrega dos arquivos do coronel Molinas Dias também ao coordenador interino da Comissão Estadual da Verdade, Aramis Nassif, e ao coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles.

Além da documentação referente a Rubens Paiva, os arquivos trazem revelações importantes sobre o atentado ao Riocentro, ocorrido em 1981. Os documentos que ajudam a elucidar os dois fatos foram tema de reportagens em ZH ao longo da última semana.

ENTREVISTA
“Tenho medo de saber a verdade”, afirma Maria Beatriz Paiva Keller

Arrumando as malas para viajar do Rio de Janeiro para Porto Alegre, a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, 52 anos, falou ontem à tarde com Zero Hora por telefone sobre a descoberta dos documentos e sua presença hoje em Porto Alegre.

Zero Hora — Como a senhora se sente diante dessa revelação?

Maria Beatriz Paiva Keller— É uma coisa que se arrasta no Brasil. Vem pingando informação e acho que vão aparecer mais coisas. Mas é preciso ter uma conclusão para a família e para a história brasileira.

ZH — Qual o seu sentimento?

Maria Beatriz— Ambíguo. Tenho um pouco de medo de saber a verdade. Pode ter acontecido alguma coisa horrível com ele. Imagina se ele teve o corpo esquartejado como chegaram a dizer?

ZH — Na época do desaparecimento, a senhora tinha apenas 10 anos. Como criança, tinha noção do que estava acontecendo à sua volta?

Beatriz— Toda situação, para mim, era um pouco incompreensível naquele momento. A menina que foi poupada pela família ainda quer ser poupada do sofrimento. Tenho medo de saber a verdade, de sofrer demais.

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