Mesmo com a fama de cidade com qualidade de vida e capital brasileira com índice de desenvolvimento humano mais próximo do modelo europeu, Florianópolis não segue o padrão quando o assunto é mobilidade urbana. Se lá uma das principais apostas para diminuir o excesso de carros nas ruas foi incentivar o uso da bicicleta, na Capital catarinense especialistas e entidades envolvidos com o trãnsito atestam que o poder público está longe de pedalar em direção a este modal alternativo.
Florianópolis possui apenas 43 quilÔmetros de ciclovias e ciclofaixas construídas, enquanto cidades como Amsterdã contam com uma malha até dez vezes maior. A capital da Holanda tem 400 quilÔmetros de vias ciclísticas. Mesmo que Amrterdã tenha área bem maior que de Florianópolis — lá a cidade tem 1,3 milhão de habitantes e aqui são 421 mil — o exemplo vale como inspiração.
A reviravolta para o incentivo do uso da bike em Amsterdãocorreu justamente após o cansaço provocado pelo caos do trãnsito de carros há 50 anos. Hoje, Florianópolis vive esse estresse, mas os investimentos para incentivar o uso das magrelas, ideal para trajetos de cinco a oito quilÔmetros, ocorre de forma tímida.
Existem exemplos brasileiros para seguir. O Rio de Janeiro, uma capital com a geografia bem parecida com a de Florianópolis, é a cidade do país mais amigável para ciclistas e já tem um sistema viário de 290 quilÔmetros de extensão.
Atualmente três ciclofaixas estão em construção em Florianópolis. Os 4,7 quilÔmetros da Rodovia Baldicero Filomeno, no Ribeirão da Ilha, interior da cidade, foi licitada em 2008 e até hoje não foram concluídos. A via ciclística da Bocaiúva deve passar de 500 metros para 1,6 quilÔmetros, segundo o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf).
Também estão sendo feitos os 2,7 quilÔmetros de ciclovia da Rodovia João Gualberto Soares, no Bairro Ingleses do Rio Vermelho, Norte da Ilha. Ainda estão em fase de projeto e licitações outros 33 quilÔmetros de ciclovias e ciclofaixas junto as ruas e rodovias estaduais e federais.
Para a professora de Engenharia de Tráfego da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lenise Grando Goldner, Florianópolis não tem infraestrutura para as pessoas se transportarem de bicicleta com segurança e nem educação no trãnsito.
Um dos principais problemas são a falta de conexões entre as vias ciclísticas, muitos delas são bem curtas, a exemplo da ciclovia em frente a Academia de Polícia Civil (Acadepol), em Canasvieiras, com apenas 400 metros de extensão. Onde não tem ciclovia e ciclofaixa, o ciclista tem direito de compartilhar a via com os carros, conforme o Código de Trãnsito Brasileiro (CTB), que exige do motorista a redução de velocidade e distãncia de 1,5 metros das bicicletas.
Cinco mortes este ano
Com a falta da conscientização dos condutores, na Capital catarinense pedalar entre ruas e rodovias está bem arriscado. Cinco ciclistas morreram atropelados em Florianópolis este ano. Um deles estava sobre a ciclofaixa da SC-401, Norte da Ilha.
— É muito triste as pessoas optarem pela bicicleta em busca de saúde e acabarem morrendo. Deveria haver o aumento das vias ciclísticas e fiscalização mais rigorosa— defende o diretor administrativo da Floripamanhã, entidade que luta por uma cidade sustentável, AntÔnio Barbosa.
Na opinião de Lenise, Florianópolis tem potencial para se espelhar nos modelos europeus, o que falta são políticas públicas para incentivar o modal sustentável.
— Lá é comum usarem vias compartilhadas, como em Amsterdã, onde tem sinalização dando preferência ao ciclista, e os Ônibus transportam bicicletas —,observa a especialista.
A pesquisa do Instituto Mapa, encomendada em 2011 pelo Grupo RBS, diagnosticou que 70% do público das 10 maiores cidades de Santa Catarina, incluindo a Capital, utilizariam a bicicleta como meio de transporte se existissem ciclovias seguras e atrativas. Com um sistema considerado precário, apenas 4% dos entrevistados de Florianópolis afirmaram utilizar a bike como meio de transporte.O estudo ouviu 4.060 pessoas no Estado, sendo 406 na Capital.
— Só conseguiremos garantir segurança e conquistar mais adeptos para o uso da bicicleta com a mobilização de todos os setores da sociedade, desde o poder público na infraestrutura, campanhas de educação de trãnsito com apoio dos meios de comunicação e entidades pró-bike— diz o diretor do Floripamanhã.
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