A caminho de se tornar o primeiro Guarani a se formar em Direito, o Cacique Hyral Moreira, 36 anos, conta sua história de luta pelos direitos do índio. Entres os caminhos que a vida lhe ofereceu, escolheu o que é cheio de desafios e envolve a Justiça brasileira.
Ele nasceu em uma aldeia no Morro dos Cavalos, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Desde pequeno, a vontade de lutar pelos direitos do seu povo foi o seu guia. Aos 14 anos, conta que começou a buscar os interesses dos índios, que segundo ele, sabem que têm direitos, mas não quais caminhos a seguir para colocá-los em prática.
— Se não tivermos noção jurídica, não teremos como nos defender, nem teremos noção do que se trata — comenta exemplificando a exploração de minérios em terras indígenas.
Por esse e outro motivos que envolvem o Estatuto do Índio, o Guarani se tornou cacique da aldeia com 31 famílias, atualmente em Biguaçu, e assumiu a presidência do conselho distrital indígena, que abrange mais de 40 aldeias no país, com 46 mil índios.
Em um dos trabalhos desenvolvidos na aldeia em prol da saúde dos índios, um colega enfermeiro incentivou Hyral a fazer a faculdade de Direito, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). O índio então resolveu procurar a academia e conseguiu uma bolsa de estudos.
Em junho de 2012, apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o tema A capacidade civil do índio no ordenamento jurídico brasileiro. No fim deste ano, ele será o primeiro índio Guarani a se formar em Direito.
— Gosto de desafios e estou aqui para mostrar que os índios não são incapazes, como a sociedade pensa. Desde 1988, somos comunidades que não vivemos mais sobre a tutela do Estado.
Tarefas e tradições
Mesmo com a rotina atribulada de tarefas por causa da liderança nas aldeias, da coordenação de uma escola e da faculdade, as tradições indígenas não foram deixadas de lado na rotina de Hyral. Ele afirma que as cerimÔnias como o plantio de semestres, os batismos e casamentos são hábitos mantidos. Apesar de morar em casa de alvenaria, conta que há colegas que ainda moram em ocas de palha.
— A natureza é a nossa essência e faz parte da nossa cultura. Temos uma relação diferente com ela, de respeito mesmo. O que mais sinto falta das tradições é a alimentação coletiva, que hoje praticamente foi abolida.
Com brilho nos olhos e um sorriso esperançoso, o cacique afirma que o sonho do diploma é o trampolim para outros em busca dos direitos dos índios. Hyral pretende fazer uma magistratura ou trabalhar no Ministério Público.
— O conhecimento você adquire conforme se empenha. O Direito não é ciência exata. Tem que ter bastante afinidade para exercer a função. Eu sempre me interessei por assuntos legais. Também gosto muito de ler — conta.
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