Home Com o adolescente "do contra", é preciso aprender a dosar autoridade e flexibilidade

Com o adolescente "do contra", é preciso aprender a dosar autoridade e flexibilidade

Última atualização 15 de outubro de 2012 - 17:32:41

Acredite: não é só para infernizar a vida dos adultos que o adolescente insiste em contrariar as opiniões dos pais. Segundo a psicóloga Mara Pusch, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esse é um comportamento que indica que eles estão se desenvolvendo bem, de acordo com o esperado para a fase.

“No processo de criação da identidade, o adolescente usa os pais como referência. Porém, como quer mostrar que tem seu próprio ponto de vista, a primeira reação é criticar o que quer que os pais digam ou façam”, afirma Mara. A boa notícia é que, em um segundo momento, o jovem pode voltar atrás em muitos de seus posicionamentos e acabar acatando as decisões dos adultos, depois de refletir um pouco.

Para o psiquiatra Içami Tiba, autor de diversos livros sobre educação, entre eles “Quem Ama Educa: Formando Cidadãos Éticos” (Integrare Editora), filhos que insistem em contrariar o tempo todo podem estar pedindo um pouco mais de liberdade.

“Os filhos ficam um pouco inseguros em crescer. Mas há pais que sofrem ainda mais ao constatar que eles estão mudando e continuam tratando o adolescente como se ele fosse criança”, diz Tiba. Para o psiquiatra, quando o pai não faz questão de se aproximar e insiste em restringir a liberdade, sem dividir responsabilidades com o filho, uma das maneiras que o jovem encontra para chamar a atenção sobre suas necessidades é bater de frente.

Escolha os conflitos

Diante dessa situação, manter a cabeça fria e refletir sobre a postura do jovem, antes de tomar qualquer atitude, é o mais importante. Os especialistas afirmam que, para evitar conflitos que desgastem demais a relação, o essencial é discernir quando é o momento de fazer valer a sua opinião, independentemente de o jovem concordar ou não com o seu posicionamento, e a hora de ser flexível e deixar o adolescente escolher, de acordo com a vontade dele.

“Algumas questões não podem ser negociadas, como ir ao dentista ou ao aniversário de 70 anos do avÔ. Em outras situações, no entanto, os pais devem pensar se vale a pena entrar em um embate. Se a família vai a um churrasco qualquer, com pessoas que o jovem não conhece, por exemplo, não há nada demais em liberá-lo para sair com os amigos”, diz Mara Pusch.

Nessas horas, é fundamental que o adolescente tenha o direito de se manifestar, mesmo sabendo que nem sempre sua vontade prevalecerá. Ao manter a decisão tomada, à revelia da opinião contrária do filho, é importante que os pais sejam firmes no momento de se colocar, que expliquem a opção feita com argumentos e que estejam convencidos de que estão fazendo o melhor para o adolescente, ainda que isso vá contra os desejos dele.

“No fundo, os filhos gostam muito de saber que têm alguém que se importa com eles e se sentem seguros ao receber limites. Ainda que não deixem isso transparecer. Por isso, os pais devem intervir quando necessário, sem nenhuma culpa”, afirma Mara.

Além de comunicar de maneira clara, direta e objetiva a sua decisão, justificando-a brevemente, os pais devem considerar um outro cuidado nessa conversa com o adolescente que faz questão de nadar contra a maré.

“Muitos pais acabam entrando em uma espécie de competição para ver quem pode mais. Isso é extremamente nocivo para a relação. É preciso que os pais lembrem-se sempre de sua posição e ajam com maturidade e bom senso”, afirma Solange de Melo Miranda, pediatra com habilitação em saúde do adolescente e membro do Núcleo de Saúde do Adolescente do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Nas situações de confronto, vale a pena fazer alguns tratos para persuadir o adolescente a agir da forma mais adequada. Os pais podem combinar que, se o jovem melhorar as notas no colégio ou participar mais das atividades de lazer da família, por exemplo, vai ganhar o direito a voltar mais tarde para casa quando sair à noite -de vez em quando.

Nessa conversa, também é importante combinar previamente qual será a situação caso uma das duas partes não cumpra com o combinado. “Uma boa pedida é começar adar mais responsabilidadespara o seu filho e, à medida que ele dá conta, oferecer a ele o prêmio da independência”, diz Tiba.

Para José Alcione Macedo Almeida, ginecologista especializado em adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo, argumentar e negociar com o adolescente dá mais trabalho do que exigir obediência, mas é o melhor caminho.

“É a partir desse jogo que se estabelecem as melhores relações entre pais e filhos. Sem contar que é no diálogo que, além de ensinar, aprendemos muito com os nossos jovens”, afirma o especialista.

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